31 de jan. de 2013

Só me ama, cara.

Diz que me ama, vai,
nem que pelo passado
e fica mais um filme.
Fala que me adora e cai
no que tenho guardado
e sem pudor maline-me.
Teach me manly how to fly.
Say to a priest “I do!”
and promisse that you’ll full me.
We won’t be just our lie
‘cause I know you want to
propose you some glee.
Diz que me ama, vai.
Não me talhe um sem-credo
como vã falácia infame.
It’s not about a guy
who tries to find his kiddo.
It’s just about we may be.

Mergulhão

16 de jan. de 2013

Pesadelo de Simão

(em pesar à SECULT/AP; vide rodapé deste)

O garoto Simão inquieto acordou na cinzenta manhã de 11 de janeiro. Como lia muito, apaixonado por histórias que era, adormeceu torto, com Monteiro Lobato sobre o rosto, e assim ficou até acordar; inquieto. Ele havia sonhado. Ou quase isso. Não havia sido um sonho bom. Há dois anos, sua mãe lhe disse que, sonho que não se sonha bem, sonho não é; é pesadelo.
Simãozinho em geral sonhava com cenários radiantes: espaços alegres como parquinhos, o corredor da escola na hora do recreio, o terreno da bola com os amigos. Sonhava também com a natureza. Animais e homens juntos sob o sol. E chuva! Adorava sonhar com chuva!
Então aquele janeiro ele temeu, pois testemunhou sua cabeça criar, como literatura torpe, um lugar hipócrita. Ele não sabia ao certo o significado dessa palavra. Nunca a vira nem em Esopo. Mas ouvira sua mãe pronunciá-la ao seu padrasto e decorou-a. Hipócrita.
No lugar da chuva, Simãozinho viu treva.
Simão pesadelou que vivia em uma cidade-livro, onde texto bom era texto que não tecia como contexto seu um discurso em dano à honra, à moral e aos bons costumes de terceiros e da sociedade. Afinal, quem necessitaria saber que, em 2011, José Sarney, o presidente do Senado brasileiro, usou, segundo o jornal Folha, helicóptero da Polícia Militar do Maranhão para visitar sua ilha particular? Quem necessitaria? Ora, ninguém. Talvez apenas o pedreiro que esperou, com traumatismo craniano e clavícula quebrada, Sarney desembarcar para que a aeronave o levasse a algum hospital de São Luís.
No novo mundo de Simão, textos não careciam de fatos assim. Não mesmo. Muito menos teimavam na promoção política de candidatos e seus partidos políticos. Getúlio Vargas, por exemplo, coitado. Peito materno à prole; mão paterna ao rato burguês. Nunca mais sofreria referência. Por que não exaltar o pastor que muito fez por seu curral? Porque não. Galanteios nunca mais.
No novo hoje de Simão, pessoas não mais precisariam de qualquer informação sobre pedofilia e bullying. Mais palavras sem uso porque atos assim não ocorreriam mais. Não mais era útil saber que o Disque 100, ou Disque Denúncia Nacional, é o serviço telefônico gratuito que recebe denúncias de violência também contra crianças e adolescentes, diariamente, de 8h às 22h, desde 1997.
Implodiram o terrorismo. Este não mais merecia sequer debate sadio ou registro a netos de netos. Homens santos desmentiram holocaustos. Logo, dito ficou: nada existiu. Assim, esqueceram-se das crianças mudas telepáticas; não havia mais jardins de rosas-Hiroshima. O que ainda ocorre nos cantos da terra do sol oriente é guerra santa. Santidade em guerra. Não terror. Temor, sim. Fé, talvez. Deus. Plural, às vezes. Deus, porém.
Por que falar de substantivos abstratos? Amor. Consciência. Cultura. Se algo não existe firmado em concreto – de lares, em lares –, falar para quê? Para quem?
Cobriram a pornografia porque chanchada não vendia mais. Termo de boa vizinhança assinaram as etnias. Todos eram, enfim, perante olhos humanos, iguais. Homens e animais só eram mercado da paz.
Abstrato seria quem proferisse o inverso. Calado deveria ser. E nada publicar.
Simão acordou. Desde então não era pleno nem se compreendia. Dormiu ainda por muitos anos abraçado ao mesmo pesadelo – que de fato acontecia. Acordou ainda pelos mesmos muitos anos espectador da hoje crível hipocrisia:
não há terror
em ser imoral;
falta pudor
e, às leis, fiscal;
batem no gay,
no preto, no crente,
no hermano sensei.
Entorpecente
é farinha de feira.
República há anos
da mesma maneira.
Perdidos humanos.
Simãozinho tinha de falar sobre tudo isso. Seria a última vez que dormiria.

Mergulhão

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"Subitem 1.6, do item 1, do objeto, do Edital nº. 001/2013, ‘Edital de Criação Literária – Simãozinho Sonhador’, do Governo do Estado do Amapá, através da Secretaria de Estado da Cultura, lançado em 11/01/2013, em Macapá, Amapá, Brasil:
(...)
Os projetos concorrentes não sofrerão quaisquer restrições quanto à temática abordada dentro da sua categoria, desde que não caracterizem:
a) promoção política de candidatos e/ou partidos políticos;
b) dano à honra, a moral e aos bons costumes de terceiros e da sociedade;
c) pornografia;
d) pedofilia e bullying;
e) discriminação de etnia, por orientação sexual e/ou religiosa;
f) tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins;
g) terrorismo;
h) tráfico de pessoas e animais."

14 de jan. de 2013

Eu sou o poeta

Eu tenho a força destrutiva em mim.
Forcei meu parto ao partir minha mãe.
Por isso então voo de calha em calha,
lapido conto que a pena valha,
ensaio canto que sangre goela.
Sozinho apenas sei superviver.
Lanço-me ao fato  sorte é para o fraco
que mal distingue em qual sopro fluir.
Eu sou a lei de um clã titã só eu.
Declino verbos-carne e mortais homens,
tombo romanos idiotas deuses
e fundo democracias por rir.
Eu tenho a força construtiva em mim.
Descarto o fútil à la inutilia truncat
e enterro o mero que insiste existir.
De que ainda repetir comuns
e ser do poviléu apenas outro?
Só quem goza assim é o muito pouco
que não entende de poder e o quer.
Eu sou o poeta
e tenho a vida aberta;
mantenho o que tu chamas “alma” alerta:
cultivo a força criativa em mim.

Mergulhão

10 de jan. de 2013

Sê belo

Porque ele persiste em ser
um não mero estar,
eu amo.
Porque ele insiste só em mim,
conosco cá,
eu o amo.
Por que sobre o amor divagar
se o amor devagar
é correspondência sem selo?
Não perca tempo consigo, meu amor,
se há muitos nós a investir.
Se hoje consigo então amar
é por já me permitir sê-lo.
Logo perdure no amar
que dure e ao eterno te leve
e nessa leveza sustente o teu ser
e, ainda que breve,
sê belo.

Mergulhão

7 de jan. de 2013

Ao andarilho errante

Enquanto vivo, desvende mil mares;
não somente como tolo ancore
em corações de mera onda em dores.
O porquê, meu bem, cê bem já sabe:
para que, quando para um porto for,
que seja em pleno litoral de cores.
Galope em nuvens e sem rédea voe;
construa torres e de lá se lance.
Abra suas asas, sim, todas as seis;
sem medo jogue-se: planar cê sabe!
Até o dia em que a raiz se teça
e então decida em fértil solo estar.
Invada adegas ou beba de maltes,
não de barril de torpe e vil cicuta.
Seja boêmio sem modéstia em vão,
porém ciente de que existe fonte
a doar água que cê tanto busca
nessa jornada de sede de amor.

Mergulhão

4 de jan. de 2013

Criança terrível

Não aborte a criança terrível
que avança a guarda e febre causa,
cuja ideia por fim só lhe mate
por não querer ser mero vil canônico
nem saber travestir-se em fios d’ouro.
Prefira o deuterortodoxo
(vulgo: o pus no social)
ao burguês mui fidalgo do frívolo:
vara humana da vida então fútil.
Conceba o pequeno inquieto,
dê voz ao rebento que inflama
com brado a incendiar velho feudo.
Não aborte a criança terrível,
tola e fria e improfícua Pátria,
cuja ideia só sua carne mata.

Mergulhão

3 de jan. de 2013

Là où ça nous ira

Ça va.
Laisse-lui s’agrandir.
Il a vraiment besoin de partir.
Il faut avoir du temps
et tous les temps verbaux possibles
pour qu’il puisse voir
qu’il doit en fait suivre
le chemin pour rentrer chez moi.
Je cherche que ses yeux ;
pas d’autres.
Je rêve que de sa chaleur ;
pas de foutre.
Je ne veux que son perdu coeur ;
la Fée Verte de mon âme,
la raison pour laquelle j’aime
croire qu’il m’aime.
Dieu... Qu’il m’aime...
Mais ça va : ça me va.
Et un jour ça lui ira.
Aussi. Ou pas ?
Tant pis ! Je sais pas.
Je sais plus.
Je continue
— comme toujours,
comme tous mes jours ;
seulement —
seul là.
Mergulhão