24 de out. de 2016

novilho

eu tenho tanto amor a te dar
tanto
mas tanto amor
que tu te nutres
no gozo de outro

no gozo de outro
não posso mais rir
ainda que eu tente
esse tanto é teu
mas tu te deleitas
no gozo de outro

no gozo de outro
tu te alimentas
feito vitelo sedente da mãe
bezerro de um pasto inteiro
por regozijar-se
no gozo de outro
e
no gozo de outro
e
no gozo de outro

no gozo de outro
confesso
não sinto mais doce
coalhou
a boca hoje azeda
no gozo de outro

no gozo de outro
eu te aceito
se somente assim te sacias
por ora
e faz-te copo profundo
e transborda
por horas
no gozo de outro

no gozo de outro
eu sei que não há
tanto
mas tanto amor como eu a me dar-te
tanto que quando tento
outrem nutrir com tanto
não deixo sabor
no gozo de outro


Mergulhão

17 de out. de 2016

Até te conhecer

Até te conhecer,
eu não decifrava os escribas de Deus.
Hoje lhe peço mais dias a ti e, se for dele intento, contigo.

Até te conhecer,
eu não mais cria no amor-d’Os-Antanhos.
Hoje por nossos abraços de horas tu sentes meu peito em furor.

Até te conhecer,
eu não lia cor mesmo em flor fluorescente.
Hoje brigam girassóis por qual te será o meu mimo ao café.

Até te conhecer,
eu sucumbia aos meus íncubos vícios.
Hoje sustento-me em ti e por ti por seres meu membro e em mim.

Até te conhecer,
eu não rimava paixão com teu nome.
Hoje todo alexandrino é rascunho raso às minhas serenatas.

Até te conhecer,
eu nunca exerci a minha apoteose
de limbo até sonho, de lodo até Lótus, de ignorar-me até te conhecer.



Mergulhão